Em 2014, o Comitê Olímpico Internacional (COI) publicou um consenso mundial sobre a Síndrome de RED-S (Relative Energy Deficiency in Sport) ou síndrome da deficiência energética no esporte, que está relacionada com a inadequação da disponibilidade de energia para as demandas metabólicas do corpo e da prática esportiva.
Ocorre por um desequilíbrio entre o consumo e o gasto energético e pode acometer atletas amadores ou profissionais, de ambos os sexos.
Entre as principais causas desse desequilíbrio, podemos destacar: a busca por um rendimento esportivo cada vez mais alto, dieta inadequada, manter um baixo peso corporal, preocupação com a estética e treinamento excessivo.
Para calcular o gasto energético deve-se considerar o conceito de disponibilidade de energia, que é o total de energia disponível para o corpo realizar todas as demais funções após descontar (subtrair) o gasto com o exercício.
Disponibilidade energética = consumo calórico na dieta – gasto calórico do exercício / massa magra (kg)
Para exemplificar, o indivíduo que tem 60kg de peso corporal, 20% de gordura corporal e 80% de massa magra (equivalente a 48Kg); consumo calórico de 2400Kcal/dia e gasto calórico do exercício de 500Kcal/dia, teremos:
Disponibilidade energética = (2400 – 500) = 1900 / 48 = 39,6 Kcal/Kg de massa magra por dia
Até o momento, não existe consenso quanto ao valor de referência. Estudos mostram que atletas com disponibilidade de energia equivalente a 45 Kcal/kg de massa magra por dia apresentavam balanço energético favorável e melhora na saúde, enquanto aqueles com redução crônica de disponibilidade de energia (abaixo de 30 Kcal/kg de massa magra por dia) mostravam deficiências nas funções fisiológicas.
A baixa disponibilidade energética, a longo prazo, pode causar diversos prejuízos à saúde, como alterações hormonais, imunológicas, cardiovasculares, hematológicas, psicológicas, saúde óssea e no metabolismo.
Outros impactos no organismo e na performance esportiva:
– Diminuição do desempenho físico
– Redução da força muscular
– Redução dos estoques de glicogênio (muscular e hepático)
– Aumento da irritabilidade
– Diminuição da concentração
– Aumento do risco de lesões
– Alterações menstruais (em mulheres)
– Alterações no padrão do sono
Para que o tratamento e a prevenção dos casos de deficiência de energia no esporte sejam eficientes, é necessária uma conscientização sobre RED-S entre atletas e sua equipe, além da detecção precoce e o tratamento interdisciplinar
(médico, psicólogo, nutricionista, educador físico) é essencial.
O tratamento normalmente é baseado em aumentar a ingestão calórica, ajustar a oferta de macro (carboidratos, proteínas e gorduras) e micronutrientes (vitaminas e minerais) e redução da carga de treino; essas mudanças devem ser individualizadas e periodizadas de acordo como gasto de energia e os objetivos do atleta.
Referências
LAGES, A. S.; REBELO-MARQUES, A; CARRILHO, F. Défice Energético Relativo no Desporto (RED-S). Rev. Medicina Desportiva Informa, Coimbra, v. 5, n. 9, p. 14-16, 2018.
MOUNTJOY, M et al. The IOC consensus statement: beyond the female athlete triad – relative energy deficiency in sport (RED-S). British Journal of Sports Medicine. London,v.48, n.7, p.491-497, 2014.
Tratado de nutrição esportiva funcional / organização Andréia Naves. – 2. Ed. – Rio de Janeiro : Guanabara Koongan, 2021
Nutricionista Esportiva